NOVA FCT: Uma história feita de pessoas

A história da NOVA FCT também é feita da sua comunidade. Fomos conhecer as histórias da geração mais antiga da Escola. Alcina do Céu Coelho Arandas, na NOVA FCT desde 1986, e Luís Camarinha-Matos, professor e investigador, na Escola há 45 anos, partilham alguns apontamentos sobre os seus percursos no Campus de Caparica. Com décadas de dedicação, destacam alguns momentos marcantes e contribuições que ajudaram a moldar a identidade da Faculdade.

 

Amandine Pires

Alcina Arandas

Amandine Pires

Luís Camarinha-Matos

Fotografias: João Lima/NOVA FCT

 

Ainda se lembra do primeiro dia em que começou a trabalhar na NOVA FCT?

AA - Ainda me lembro como se fosse hoje, já passaram 38 anos, jurei pela minha honra na presença do Sr. Diretor Professor Leopoldo Guimarães e o Sr. Secretário, Dr. Luís Filipe Gaspar, que cumpriria com lealdade as funções que me eram atribuídas.

Era um ato muito importante, sentíamos o peso da responsabilidade e a obrigação de não falhar, foi um dia muito emotivo e marcante para mim.

LCM - Certamente que sim. Na altura, como jovem recém-licenciado em Engenharia Informática tive de imediato que assumir a responsabilidade pela disciplina de Estruturas de Dados, numa fase em que o corpo docente e os recursos computacionais ainda eram bastante limitados. Como parte de um grupo de primeiros docentes formados na casa, e assumindo responsabilidades logo após o término da missão de alguns docentes estrangeiros que ajudaram a lançar a Informática na NOVA, sentíamo-nos “lançados ao oceano sem boias de salvação e sem muitos pontos de referência”, mas ao mesmo tempo com a energia e entusiasmo de “descobrir novos territórios” e contribuir para uma iniciativa pioneira a nível nacional. 

 

Qual a memória/episódio mais divertida/o desde que cá está?

AA - Tenho muitos. Recordo-me em especial de um. Sempre que havia testes de matemática, a telefonista recebia um telefonema anónimo a informar que havia uma bomba na Faculdade. Íamos todos para a rua, fechavam os edifícios, chamavam a GNR (minas e armadilhas) que inspecionava os edifícios um a um. Levavam horas e nós na rua, muitas vezes íamos para casa e os edifícios eram reabertos no dia seguinte. Um dia o Sr. Diretor não cedeu às ameaças e acabou a brincadeira.

LCM - A transferência abrupta do Seminário dos Olivais para o Campus de Caparica, quando nem sequer tínhamos instalações sanitárias operacionais. Foram momentos épicos para manter a Faculdade a funcionar durante esse período conturbado. Ainda enquanto aluno desta faculdade, recordo as aulas que tínhamos à uma da manhã nas instalações do LNEC. Na época, sem meios computacionais próprios, recorríamos ao centro de cálculo do LNEC, que só estava disponível para nós durante as noites. Mesmo assim, já nessa fase era evidente o “espírito da NOVA FCT” e o grande empenho dos docentes e seu envolvimento com os alunos.

 

De tudo o que fez na Faculdade, o que é que a/o deixa mais orgulhosa/o?

AA - Tudo me deixa orgulhosa. O período em que trabalhei nos Serviços Técnicos (nome na altura) foi, para mim, o melhor período. Modéstia à parte, sinto que realizei muitos sonhos e que ajudei muita gente. Foi uma época de muito trabalho em equipa, com um espírito de entreajuda muito grande. Se era preciso resolver algum problema, era para nós que ligavam e tentava-se responder da melhor forma. Foram 33 anos nesse serviço, que me deixaram uma grande sensação de realização profissional.

LCM - A criação e coordenação, por mais de 16 anos, do Programa Doutoral em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Este programa conta hoje com grande prestígio internacional, acompanhado pela conferência doutoral anual DoCEIS (Advanced Doctoral Conference on Computing, Electrical, and Industrial Systems), que se tornou altamente reconhecida e atrai doutorandos de diversas partes do mundo.

 

Que legado espera deixar para o futuro da NOVA FCT?

AA - A única coisa que eu gostava é que todos tivessem a consciência que trabalhamos para o mesmo objetivo, sem atropelos, sem faltas de respeito, pois só assim se consegue que a Faculdade seja uma verdadeira escola de referência. 

LCM - O trabalho pioneiro na criação e consolidação da área de Redes Colaborativas (“Collaborative Networks”). Esta nova disciplina conta hoje com uma vibrante comunidade científica a nível internacional, sendo a NOVA FCT amplamente reconhecida como referência mundial na área. Os muitos doutorados que orientei, agora atuando em diversos países, são também parte desse legado. Acrescentaria ainda, a contribuição para uma cultura de rigor e excelência científica a nível do centro de investigação CTS (Centro de Tecnologia e Sistemas), o qual tive oportunidade de coordenar nos últimos anos.

Novembro 2024