O que representa para si receber a distinção de "Professor do Ano" nos FCT Awards?
É uma grande honra. Este é um agradecimento direto dos estudantes da NOVA FCT para com os seus Professores. Os estudantes são os verdadeiros especialistas e avaliadores dos sistemas de ensino utilizados pelos docentes. Eles, sim, sabem avaliar se utilizamos ou não sistemas de ensino modernos e relevantes, se utilizamos ou não metodologias inovadoras capazes de potenciar a sua aprendizagem, se recorremos ou não a esta ou aquela tecnologia significativa, etc. Entendo assim este prémio como uma mensagem de incentivo, por parte dos alunos a quem tive o privilégio de ensinar Matemática, dizendo-me diretamente que apreciaram o esforço e o tempo despendido em tornar assuntos enfadonhos em assuntos impactantes onde a relevância é clara, que apreciaram a coerência, a organização e a preocupação com a preparação das aulas por mim lecionadas, que a comunicação e o ambiente proporcionado em torno das unidades de crédito em que trabalhei foram favoráveis ao processo de aprendizagem e que consideraram justos os critérios e resultados da avaliação. Esta é, portanto, uma distinção que recebo com carinho e que me orienta e incentiva a continuar a olhar com preocupação para o Ensino da Matemática aqui na nossa Escola.
O que considera relevante e diferenciador no seu papel de Professor e na forma como se relaciona com os seus alunos, que possa ter motivado esta eleição pelos estudantes da NOVA FCT?
Tudo o que sei a respeito de técnicas pedagógicas foi adquirido ao longo dos anos na minha prática docente. Felizmente, temos muito bons professores na NOVA FCT e, em particular, no Departamento de Matemática (DM), nos quais me tenho vindo a inspirar. Costumo dizer que “pegar num grupo de alunos, fechá-los numa sala de aulas e colocá-los a calcular Integrais e resolver equações diferenciais, não é para todos e, ou desenvolvemos estratégias para os motivar ou a coisa correrá mal”. Essas estratégias estão tão enraizadas em mim e nos colegas do DM que não me é fácil enumerá-las. Em todo o caso, talvez exista um aspeto muito particular meu que me diferencia da grande maioria dos Matemáticos. Sou um Matemático que em jovem odiava Matemática. Mas odiava mesmo! Não a entendia, considerava-a difícil, e não compreendia como alguém “normal” podia achar a Matemática interessante. Lembro-me perfeitamente de ser miúdo e numa noite deitar-me e pensar “Era fantástico que amanhã não existisse nem um…”. Referia-me aos Professores de Matemática!
Mas essa minha dificuldade constituiu, ao longo dos anos, um incentivo para começar a trabalhar e a estudar mais. Se os outros conseguem, porque é que eu não conseguiria? E se no 8.º ano do ensino básico ainda passei com dificuldade à disciplina de Matemática, no primeiro trimestre do 9.º ano já era o melhor aluno da minha escola, e nunca mais deixei de o ser. Esta é uma história que todos os meus alunos sabem. São presenteados com ela sempre na primeira aula em que me conhecem. “Têm dificuldade a Matemática? Também eu. Vamos ter de trabalhar mais do que os restantes alunos, mas garanto-vos que é possível”. E esta é uma poderosa mensagem verídica a que poucos Professores poderão deitar mão. É exclusividade minha. E devido ao facto de como aluno ter sempre considerado a Matemática como uma disciplina difícil, é muito fácil para mim detetar os tópicos e assuntos problemáticos para os estudantes, uma vez que a seu tempo tive as mesmas dúvidas. Nesses assuntos partilho com os atuais alunos as estratégias que desenvolvi para ultrapassar aquele obstáculo ou torná-lo natural, e a verdade é que tem resultado. O facto de o Professor não ser uma máquina, mas ser alguém que, como eles, também teve dificuldades, gera em torno do processo de aprendizagem um clima de identificação e empatia que em muito favorece o estudo, a perseverança e a vontade de superação dos obstáculos.
Que dicas pode deixar aos docentes que iniciam as suas carreiras para criar e gerir uma boa relação com os estudantes?
Efetivamente, estou convencido de que não importam os sistemas de ensino escolhidos, as tecnologias, aplicações ou metodologias inovadoras utilizadas em sala de aula porque a essência da educação estará sempre na relação que se estabelece entre professores e alunos. Atenção que quando penso na relação entre professores e alunos refiro-me apenas aquelas relações pessoais que se restringem a objetivos didáticos e científicos. Um bom professor não é amigo dos seus alunos, até porque isso é impossível, e qualquer relação que ultrapasse os objetivos didáticos não tem qualquer robustez do ponto de vista pedagógico. Os grandes professores com quem me cruzei ao longo dos anos nunca pretenderam ser aceites pelos alunos, mas sim almejaram ser juntos e ensinar melhor. É claro que para se estabelecer essa favorável relação de confiança, em muito contribui a personalidade do professor, a sua disponibilidade para ensinar, para clarificar dúvidas e a empatia para com quem aprende conteúdos novos. Mas o mais importante é mesmo o gosto por ensinar. Se um professor não for apaixonado pelo que está a ensinar então não conseguirá despertar o interesse de quem o está a escutar. Como li um dia “onde não há paixão, não há vibração de moléculas…” e a relação de confiança não se estabelece. A qualidade de uma aula mede-se pela combinação entre uma arrebatadora e surpreendente apresentação de conteúdos e a perceção por parte dos alunos da importância e sentido práticos relevantes daqueles conteúdos. É por isso que a preparação de uma aula, principalmente nos primeiros anos de lecionação de uma unidade curricular, pode dar muito trabalho. Precisamos não só saber muito sobre o que estamos a ensinar, mas também ter bastante claro na nossa mente por que estamos a ensinar aquele conteúdo. E um típico aluno de Engenharia da nossa Escola só se deixa conquistar por um assunto se entender nitidamente a sua importância e aplicabilidade. Por fim devo salientar a consistência e coerência do professor e dos seus valores, ao longo de todo o processo educativo: pois cada aula é uma nova e fascinante viagem, com regras estabelecidas, e ou conseguimos que novamente os alunos levantam voo connosco ou ficarão na sala de espera do aeroporto e terão perdido a viagem.
O futuro do ensino é uma preocupação? Porquê?
O direito ao ensino está consagrado na Constituição de quase todos os países do mundo. É através da educação que se processa a formação do cidadão e que as sociedades se transformam e evoluem e, neste processo, as Instituições de Ensino Superior desempenham um papel de grande relevância. Segundo os nossos estatutos, “A NOVA FCT tem como missão a transmissão e difusão do conhecimento, da tecnologia e da cultura nas áreas da engenharia e da ciência, ao serviço do ser humano, com respeito por todos os seus direitos” e, de forma a poder cumprir com excelência esta missão a mesma “Desenvolve conhecimento científico e tecnológico nas áreas da engenharia e da ciência”. Repare-se que apesar da grande missão da Universidade ser a do Ensino (e foi com este objetivo que as primeiras universidades foram criadas), hoje em dia faz-se crer que o prestígio da Universidade gira em volta da Investigação. Como é bem sabido, ninguém na Academia progride na carreira por ser um bom professor ou um professor inspirador. Apesar da importância do Ensino na Academia e do cuidado que todos devemos colocar no processo de aprendizagem dos nossos estudantes, as exigências crescentes relacionadas com as questões da Investigação já lançaram as preocupações com o Ensino para segundo plano. É urgente que esta tendência decrescente não continue e, neste contexto, os FCT Awards, organizados pela AEFCT, revestem-se ainda de maior importância ao recordar a Comunidade Universitária que o Ensino na Academia é importante e não deve ser descurado.
Junho 2024