Docente e investigador no Departamento de Física da NOVA FCT, Jorge Machado considera que o grande desafio de se ser professor é conseguir passar o entusiasmo e a importância da ciência como método e instrumento para desvendar os segredos do universo e ajudar na construção de um futuro melhor.
Acaba por ser por um acontecimento bastante improvável, o de chegar à NOVA FCT, só possível pela convergência de diversos acontecimentos no mesmo período; daí o improvável. Sou natural de uma pequena aldeia do distrito da Guarda, o que por si só torna o evento difícil de acontecer. Dada a minha clara inclinação e gosto por física no secundário, decidi vir para Lisboa com 17 anos. Acabei por fazer a licenciatura e o mestrado em Lisboa, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com uma vertente bastante vincada em física nuclear. Após a conclusão do mestrado, continuei a trabalhar cerca de três anos como bolseiro, dando continuidade ao projeto de mestrado, no entanto, sem um plano muito claro em termos de futuro científico. Estando o projeto a chegar ao seu término, dou por mim em busca de novos caminhos, na perspetiva de dar continuidade a uma possível carreira científica. É nesta altura em 2013, que encontro a proposta de um projeto de Doutoramento com todas as características que procurava e que me aliciavam – um projeto com uma forte vertente experimental num ambiente internacional competitivo, associado a uma componente computacional de análise de dados e teórica. Essa proposta era para um projeto em regime de cotutela entre a NOVA FCT e a Sorbonne Université. Acabei por ser o candidato selecionado e assim cheguei à NOVA FCT.
Bem, espero que esteja na NOVA FCT com nomeação definitiva e com mais financiamento para ciência. A minha ambição é continuar a fazer o que faço, garantir que consigo ter o financiamento necessário para tal e para atrair alunos que, tal como eu, se apaixonem por física, nomeadamente por física fundamental, seja ela experimental, teórica, atómica ou nuclear. Estou envolvido em diversos projetos e colaborações que procuram respostas para lá da fronteira do conhecimento. Quero continuar à procura.
Resiliente.
Profissionalmente é o facto de ter conseguido fazer o que gosto. Não só me orgulha mas também me traz bastante felicidade. É um privilégio conseguir fazer o que se gosta, especialmente quando o que se gosta soa a algo um tanto ou quanto exotérico, nesta busca quase insana pelos mistérios da natureza.
Num auditório do edifício VII a frase “desistam, não vale a pena o esforço” escrita no quadro a giz. É inesperado porque não esperava sentir este desalento por parte de um estudante na faculdade, até porque não concordo com a frase. É claro que vale!!!
Ensinar. Parece óbvio e quase uma piada, mas é esse e só esse o desafio. Claro que a estratégia do docente tem que naturalmente mudar com o tempo e com as diferentes gerações de alunos com que se vai deparando na sala de aula. Penso, no entanto, que continua a ser esse o objetivo. Independentemente da estratégia adotada, conseguir passar não só a mensagem mas também o entusiasmo e a importância da ciência como método e instrumento para desvendar os segredos do universo e como esse conhecimento pode ser utilizado na construção de um futuro melhor.
Tentem lembrar-se de quando estavam do outro lado, dos problemas que sentiram, das inseguranças que tiveram, vocês e os vossos colegas, os desafios menos fáceis que encontraram. Tentem criar debate na sala de aula, fazer da aula um espaço para questionar, debater e concluir uma determinada ideia em conjunto com os alunos. Eu gosto de sentir a participação ativa dos alunos na aula, questioná-los acerca de um determinado assunto e tentar guiá-los de forma a que consigam, com mais ou menos ajuda, chegar a uma resposta.
Tenho diversos locais que me fazem relaxar, desde parques a florestas, e até a praia, mas em época baixa. Mas nenhum local me faz relaxar tanto como a cozinha. Adoro cozinhar. Enquanto cozinho a minha atenção está completamente focada nessa tarefa, consigo abstrair-me do trabalho no simples ato de preparar comida. Gosto dos Domingos, acordar cedo e começar a preparar o almoço, geralmente um assado ou um qualquer desafio culinário com o qual eu me comprometi e que terá de resultar.
Tenho vários livros infantis em cima dos meus livros na minha mesa de cabeceira e admito que a leitura para o meu filho de três anos tem sido a minha principal fonte de literatura. No entanto tenho sempre três, geralmente dois de divulgação científica, uns mais técnicos que outros, e tento ter sempre um romance ou outro. Estou a acabar de ler o “Quantum Mechanics – The theoretical minimum” do Leonard Susskind, a começar o “The end of everything (Astrophysically Speaking)” da Katie Mack e a revisitar o “Ensaio sobre a Lucidez” de José Saramago.
Ora aqui está uma pergunta muito difícil de responder. É muito difícil selecionar uma só figura histórica na imensidão de pensadores, cientistas e artistas que existiram e que mudaram o mundo, a forma como o vemos e até a forma como nos vemos no mundo e no universo. Tendo que escolher um seria Richard Feynman, não só pela sua contribuição para o conhecimento mas especialmente pela sua filosofia pedagógica, até porque me revejo muito nela, nomeadamente na sua opinião relativamente a praticidade e aplicabilidade do conhecimento. Como o próprio disse em determinadas ocasiões “I learned very early the difference between knowing the name of something and knowing something” ("Aprendi muito cedo a diferença entre saber o nome de uma coisa e saber uma coisa").
Junho 2023