Por ocasião do 46.º aniversário da NOVA FCT, Isabel Moura e José Moura, figuras incontornáveis da história da Faculdade, partilham connosco alguns momentos da sua carreira.
Isabel Moura: Estou desde 1977 como docente. Portanto, há 46 anos. Em 1977, frequentei um dos primeiros mestrados da NOVA FCT, em Química Inorgânica Física.
José Moura: Há 46 anos. Em 1977, entrei como Assistente da NOVA FCT, ainda no Seminário dos Olivais.
I.M.: Embora estivesse dez anos à frente do Departamento de Química, nunca foi essa uma das minhas ambições, assim o fiz com sentido de dever e dedicação ao DQ e à NOVA FCT. Os maiores desafios foram ter de reorganizar os laboratórios de ensino por áreas científicas, disponibilizando material e equipamento científico comum às diferentes áreas. Passámos a ter uma organização das aulas mais lógica (Laboratórios de Ensino de Química Orgânica, Bioquímica, Engenharia Química e Química Física e Inorgânica). Tive que, duramente, mudar mentalidades e vencer alguns dogmas enraizados há muito tempo.
Outro grande desafio foi a criação da licenciatura de Bioquímica. Um grande esforço e também uma luta dura. A proposta ficou mais de um ano na gaveta, mas consegui!
A criação do Laboratório Associado de Química Verde REQUIMTE, em conjunto com a Universidade do Porto, foi algo que me trouxe uma grande satisfação, permitindo criar uma unidade de investigação de qualidade, que marcou definitivamente a NOVA FCT como uma Faculdade de Investigação.
Isabel Moura
A criação do Laboratório Associado de Química Verde REQUIMTE, em conjunto com a Universidade do Porto, foi algo que me trouxe uma grande satisfação, permitindo criar uma unidade de investigação de qualidade, que marcou definitivamente a NOVA FCT como uma Faculdade de Investigação.
J.M.: Por opção sempre senti que devia participar na vida ativa da NOVA FCT (além da docência e investigação) e sempre considerei estes cargos com o sentido de dever e espírito imaginativo por forma a contribuir para mudanças positivas. Nunca considerei com grande interesse ser reeleito nestes cargos.
Sempre considerei estes cargos com o sentido de dever e espírito imaginativo por forma a contribuir para mudanças positivas.
José Moura
Os três anos como Presidente do DQ/NOVA FCT foram um tempo de melhorar infraestruturas/ equipamentos comuns, olhar de perto para a gestão financeira e iniciar as bases de um futuro Laboratório Associado, processo desenvolvido e concluído com enorme sucesso pelo Presidente seguinte. Nunca esqueço o precioso apoio da Maria Manuel que me secretariava e dava conselhos preciosos.
I.M.: A NOVA FCT foi muito importante no desenvolvimento da minha investigação. A escola permitiu-me o acesso a laboratórios adequados, equipamentos, e deslocações a diferentes laboratórios na Europa e Estados Unidos com os quais estabelecemos laços fortes colaborativos.
J.M.: Esta primeira pergunta remete, de imediato, para a questão “o que é sucesso?”, que é,pressuponho, tratar-se da obtenção de resultados relevantes/importantes e reconhecimento. Neste percurso, o caminho não é solitário. A criação e liderança de uma equipa responsável, fiável, imaginativa e produtiva foi fundamental. Obter financiamento para levar a cabo a investigação planeada foi um ponto fulcral, ainda que difícil. Os cruzamentos (ideias, projetos, colaborações) com outras equipas nacionais e estrangeiras foram fundamentais, aliados ao interesse em estar sempre atento a outros públicos/comunidades. Sem a infraestrutura proporcionada pela NOVA FCT nada disto teria sido possível. O meu grupo de investigação foi o primeiro a ocupar o Edifício Departamental (DQ) ainda em fase de conclusão (permitindo a instalação do aparelho de RMN).
J.M.: A eleição para o Conselho Científico da NOVA FCT foi uma escolha da Escola para a qual não fiz campanha. Por esse fato, embora um pouco assustado com esta responsabilidade adicional (que em certa medida perturbou a minha atividade científica), assumi o cargo. Com o auxílio do Secretariado e (a Amila, que muito me ajudou) e as duas vice-Presidentes, as Professoras Susana Barreiros e Regina Monteiro (um trio imparável), foi possível levar a cabo esta tarefa. Muitas coisas se passaram: Processo de Bolonha, índices de funcionamento departamentais, distribuição de cargas docentes e reorganizações departamentais, só para referir algumas. Conseguimos manter reuniões de 15 em 15 dias com todos os Presidentes de Departamento e várias reuniões Plenárias (com mais de 400 docentes). Penso que foi uma presidência muito aberta, um gabinete de diálogo permanente e fiquei a conhecer a “escola” e os docentes em toda as suas múltiplas valências e diversidade.
I.M.: Tive muito orgulho em ser a primeira Membro Correspondente da Secção de Química da Academia de Ciências de Lisboa. Acho que chegou tarde demais (2021). Não só para mim, mas muitas outras cientistas portuguesas o teriam merecido. Sinceramente acho que ainda há muitas situações de desigualdade de género na sociedade portuguesa e no meio académico. Um longo caminho ainda a percorrer.
J.M.: Um acaso, um convite do Professor Leopoldo Guimarães (então Diretor da NOVA FCT). Um desafio colocado a um investigador/professor que sempre se interessou pela interface Ciência /Arte. Foi essa a motivação, pois antevia que podia fazer algo de novo. A partir de pólos dispersos foi erguido, há 17 anos, o magnífico espaço de Biblioteca no Campus. Estavam criadas condições para um trabalho digno para desempenhar a sua função digamos “convencional” (coleções, arquivo, catálogo, literacia, etc.) e ser um lugar muito especial “para lá dos livros”, com condições técnicas à altura da contemporaneidade (excelente internet, computadores, um espaço arquitetónico simpático e estimulante).
Foi possível criar um espaço cultural permanente, com reconhecimento interno e externo, para Exposições, Arte, Teatro, Música, em forte interação com o Campus e a Comunidade.
José Moura
Foi possível criar um espaço cultural permanente, com reconhecimento interno e externo, para exposições, arte, teatro, música, em forte interação com o Campus e a Comunidade. Em março de 2011, foi assinado um protocolo desta Biblioteca com a Embaixada dos EUA (American Corner). Trata-se de uma parceria para apoio ao ensino e investigação, através de bases de dados científicas, disponibilização de materiais e vinda de especialistas norte-americanos. Com este apoio e o da NOVA FCT, foi possível a criação do FCT FabLab (Laboratório de Fabricação Digital), em funcionamento desde outubro de 2016, que passou a disponibilizar o acesso aos cinco pilares da fabricação digital, incluindo a impressão 3D, sendo um espaço aberto a todos (Campus e Comunidade alargada) e promovendo um conjunto de workshops muito frequentados.
I.M.: Em relação às memórias como docente, do que tenho mais saudades é do contacto com os alunos e a possibilidade de os entusiasmar com os temas de investigação que desenvolvi ao longo dos anos e, deste modo, iniciá-los na vida científica.
Do que tenho mais saudades é do contacto com os alunos e a possibilidade de os entusiasmar com os temas de investigação
Isabel Moura
J.M.: Sem dúvida a interação com jovens alunos e os outros mais “velhos” deixou muitas saudades. Recordo a minhas aulas teóricas às 8h da manhã, muito participadas, explicando de modo entusiasta alguns temas complexos que tentava que se tornassem simples e entendíveis, e estando sempre disponível. Optei sempre por proporcionar uma formação de banda larga, que espero tenha permitido oferecer as ferramentas necessárias para adaptação ao mundo futuro que os esperava.
Reunião REQUIMTE - Obtenção do estatuto de Laboratório Associado em 2001.
Isabel Moura homenageada na primeira edição da exposição “Mulheres na Ciência”, em 2016, promovido pelo Ciência Viva.
Mariano Gago e José Moura, à entrada do edifício da Biblioteca, numa das muitas visitas do então Ministro da Ciência e da Tecnologia à NOVA FCT.
Comemorações do Ano Internacional da Tabela Periódica, em 2019.
Novembro de 2023