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Desafios da inovação em contexto académico

por Eurico Cabrita

Subdiretor para a Inovação & Investigação

 

A inovação é um processo criativo que, numa definição abrangente, consiste na implementação de novas ideias, métodos, tecnologias ou produtos que melhoram significativamente os conhecimentos e práticas existentes.

Particularmente em contexto académico, a inovação é impulsionada pela curiosidade e pela procura de conhecimentos, e envolve o pensamento criativo, a análise crítica e a aplicação da investigação, com ênfase no rigor, na análise pelos pares e no potencial de aplicação no mundo real. Deste modo, através da investigação, a academia contribui para o ciclo contínuo da inovação, ultrapassando os limites do que é conhecido e do que é possível, desempenhando um papel crucial no progresso da sociedade, no desenvolvimento económico e no avanço da compreensão humana.

A promoção de uma cultura de inovação em ambiente académico requer uma abordagem multifacetada que envolve a participação ativa de estudantes, professores, dirigentes, trabalhadores e parceiros externos. É por isso fundamental a criação de um ambiente que equilibre eficazmente o tradicional destaque que a academia dá à investigação e ao ensino, com a natureza dinâmica e arriscada da inovação, abraçando os diversos desafios em algumas áreas chave.

Paradoxalmente, uma das maiores barreiras à inovação em ambiente académico é a resistência à mudança. As universidades têm frequentemente associados ao ensino, à investigação e à gestão administrativa, normas e tradições fortemente enraizadas, que podem dificultar a adoção de novas formas de pensar e de trabalhar, essenciais para a inovação. Por outro lado, a academia recompensa tradicionalmente o sucesso comprovado e os resultados académicos, o que pode fazer com que os indivíduos e as instituições tenham receio de desafiar o status quo.

Os sistemas internos de inovação organizacional obrigam também a mudanças que promovam maior exigência, mas também novas oportunidades de evolução de carreira, com a aquisição de novas competências e novos modelos operacionais. Conceitos como Intra empreendedorismo são cada vez mais valorizados numa lógica de crescimento, evolução e inovação com impacto global, transversal a toda a organização académica.

Ao nível estratégico, a adoção de políticas e modelos de governança que suportam a flexibilidade, a experimentação e a adaptação às mudanças é fundamental. Isso inclui o estabelecimento de uma estrutura organizacional com equipas que promovam a investigação interdisciplinar, a colaboração com a indústria, a transferência de tecnologia e a exploração comercial dos resultados da investigação. Simultaneamente, deve ser prioritária uma simplificação de processos administrativos, de modo a facilitar políticas e boas práticas que promovam a diversidade, a inclusão e a transferência de conhecimento entre a universidade e a sociedade.

A inovação também se estende ao domínio da educação e da aprendizagem. A adoção de métodos de ensino inovadores, como a aprendizagem baseada em projetos e programas de educação interdisciplinar e de base experimental, prepara os estudantes para exercerem o seu pensamento crítico e atuarem enquanto solucionadores criativos de problemas. Tudo isto tem um reflexo prático na melhoria dos resultados da aprendizagem e prepara os alunos para as exigências do século XXI.

Esta transformação não se limita à adoção de novas tecnologias, mas também à reformulação da pedagogia e à criação de novas ofertas formativas para diferentes públicos-alvo (não esquecendo a aprendizagem ao longo da vida), colocando as universidades na base da expansão e da transferência do conhecimento para a sociedade, impulsionando, consequentemente, o desenvolvimento económico e o progresso social.

Um aspeto importante a ter em conta para a inovação é a promoção de uma cultura de empreendedorismo na formação académica. Os programas de formação em empreendedorismo são veículos muito eficazes para transformar descobertas académicas em produtos, serviços ou processos, facilitando a transição do laboratório para o mercado. Estes programas fomentam uma cultura voltada para a solução de problemas reais e criação de valor, para além de promoverem o desenvolvimento de competências essenciais para a gestão do risco e aceitação do fracasso, para a gestão de negócios, finanças, marketing e vendas.

Um dos maiores constrangimentos à inovação académica prende-se com as restrições de recursos, nomeadamente limitações de financiamento à investigação e ao apoio à transferência de conhecimento.

A investigação fundamental expande o conhecimento sem o objetivo de uma aplicação prática imediata, contribuindo para saltos tecnológicos e estabelecendo a base da inovação incremental, que conduz ao aperfeiçoamento de tecnologias existentes. Assim sendo, a dificuldade de obtenção de financiamento para apoiar projetos mais exploratórios ou em fase inicial, pode constituir um obstáculo significativo ao ciclo de inovação.

A investigação aplicada, por outro lado, procura resolver problemas específicos, concretizando-se muitas vezes em inovações tangíveis num curto espaço de tempo, potenciando, mais facilmente, parcerias com entidades privadas, com vista ao desenvolvimento e financiamento de projetos concretos.

A necessidade de um equilíbrio entre o financiamento da investigação fundamental e aplicada é essencial para qualquer estratégia de desenvolvimento científico e de inovação sustentável de longo prazo. A diversificação das fontes de financiamento da investigação é a componente chave para esta estratégia.

Promover esta diversificação passa, pois, por criar uma rede eficiente, capaz de apoiar e maximizar a captação de financiamento público através das agências nacionais e internacionais, desenvolver parcerias com a indústria e entidades privadas e explorar outros modelos de financiamento como a exploração de patentes e licenciamentos e a comercialização de tecnologias que podem gerar retornos financeiros para a Universidade.

A gestão de relações corporativas fortes entre a academia e o mundo empresarial é fundamental para o desenvolvimento e financiamento da inovação académica. Em cooperação e observação rigorosa da ética e da transparência, a academia e as empresas podem desenvolver programas de investimento direto para financiamento de contratos de investigação aplicada. Alguns exemplos de iniciativas conjuntas passam por patrocínios para infraestruturas tecnológicas, eventos académicos ou promoção do talento, programas de desenvolvimento e formação conjuntos, projetos de responsabilidade e impacto social, entre outros.

São estas as relações que se encontram na base de muitos processos de transferência de conhecimento, materializados no licenciamento e comercialização da inovação académica, na criação de start-ups, ou na incubação e aceleração de empresas emergentes.

Ao integrarem e criarem estas redes de desenvolvimento de tecnologia e inovação, as universidades não só enriquecem o ecossistema académico, mas também contribuem significativamente para o desenvolvimento económico, social e cultural a nível local, nacional e global. Esta abordagem holística garante que as Instituições de Ensino Superior permaneçam na vanguarda da inovação, preparando a próxima geração de líderes, investigadores e empreendedores para os desafios futuros.

Janeiro 2024