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Caras da inovação: Manuel João Mendes, Investigador da NOVA FCT na vanguarda dos sistemas fotovoltaicos

 

 

Manuel João Mendes desempenha funções como Professor no Departamento de Ciência dos Materiais da NOVA FCT e como Investigador no CENIMAT, sendo uma figura destacada na promoção da inovação na NOVA FCT.

O seu trabalho tem recebido reconhecimento por parte de entidades prestigiadas, como é exemplo a recente atribuição de uma bolsa pelo European Research Council, no valor de dois milhões de euros, para o desenvolvimento de uma solução inovadora e sustentável na produção e captação de energia através de sistemas fotovoltaicos.

Adicionalmente, o professor foi agraciado com duas bolsas Marie Curie Experienced-Research Fellowships (em 2012 e 2014), recebeu o FEMS Communication Award for Excellence in Materials Science & Engineering em 2020, e em 2021 foi um dos vencedores do Prémio IN3+ da Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) - o maior prémio nacional para projetos individuais de inovação.

Graças ao seu trabalho de investigação, o professor conseguiu atrair um financiamento de aproximadamente seis milhões de euros através dos projetos que coordenou.

Fomos conhecer o perfil deste cientista que tem estado na vanguarda da sua área de investigação.

 

Em que momento decidiu abraçar esta área da energia e dos sistemas fotovoltaicos? Surge como consequência do percurso académico ou é um gosto particular?   

Desde a minha licenciatura em Física Tecnológica que tenho cultivado o interesse pela aplicação de novos conceitos físicos e tecnologias avançadas à nano/micro-escala para melhorar o desempenho de sistemas de energias renováveis. Sendo o Sol a origem de praticamente toda a energia usada na Terra, acredito que a nossa sociedade evoluirá progressivamente para o uso direto (e limpo) dessa recurso através da tecnologia fotovoltaica como fonte principal de alimentação de todas as nossas atividades.
 

Qual foi a inspiração para este caminho profissional?   

Penso que esta preferência foi inicialmente inspirada pelo meu pai, que dedicou a sua carreira à investigação e promoção da energia solar térmica. Mas ao longo do caminho tenho recebido forte influência de várias outras pessoas, como professores, orientadores, e demais colegas e cientistas com quem tenho convivido, e que têm dado importantes contributos para o desenvolvimento do conhecimento e das diferentes tecnologias de captação e conversão da energia solar. 
 

No campo profissional, quais os momentos que marcam o seu percurso? Sempre esteve ligado à NOVA FCT?

Tive oportunidade de trabalhar em diversas partes do mundo, tendo vivido cerca de nove anos fora do país. Primeiro em Houston (EUA) onde aprendi muito sobre nanotecnologia no grupo do prémio Nobel Richard Smalley. Realizei posteriormente o Doutoramento em Madrid, orientado pelo Prof. Antonio Luque - um dos primeiros impulsionadores do fotovoltaico na Europa, contemporâneo do nosso conhecido Prof. Leopoldo Guimarães. Seguiu-se um post-doc Marie Curie em Catania (Itália), onde fortaleci a minha experiência em fotónica, e finalmente regressei a Portugal onde tenho estado a avançar com este campo no centro CENIMAT da NOVA FCT conjuntamente com investigadores de topo.
 
 "Devemos manter sempre a originalidade de pensamento, pois é essa nossa forma diferente (até radical) de ver as coisas, conjugada com os nossos interesses particulares, que faz com que as nossas contribuições possam ser realmente únicas e, como tal, potencialmente valiosas."
 

Tem vindo a conquistar, nos últimos anos, diversos prémios pelo seu trabalho (ICNM e mais recentemente a bolsa ERC) e a ter alunos seus também a destacarem-se com as suas teses. São fatores de motivação adicional para explorar novos caminhos?  E como entende o seu papel enquanto orientador de futuros investigadores? Como é que vê a carreira de investigação na academia?  

As pirâmides robustas têm de ter uma base forte. Daí que dedico muita da minha energia a ensinar e motivar novos investigadores que possam crescer e desenvolver o campo por eles próprios. Para tal é fundamental dar perspetivas de progressão, para que todos possam dar o seu melhor com o objetivo de alcançar as suas metas pessoais alinhadas com as do grupo onde se inserem. 
Infelizmente a carreira de investigação apresenta importantes lacunas nesse sentido, que tentamos compensar por meios próprios mas nem sempre com sucesso. Isto porque esta carreira tem um percurso mais ou menos bem definido até à conclusão do primeiro post-doc após o doutoramento, mas a partir daí há como que um "fosso profissional" onde é incerto o que esperar a seguir e o que fazer para um dia alcançar uma posição duradoura/permanente. Esse é um aspeto que devia ser olhado com atenção a nível nacional e Europeu, para haver uma melhor estruturação da carreira de investigação. 
 

O ecossistema empresarial acolhe/apoia financeiramente a inovação que nasce no meio académico?

Em algumas áreas sim, mas infelizmente no campo do fotovoltaico neste momento não existem fabricantes da tecnologia em Portugal, apenas revendedores, projetistas e instaladores. Daí que esta é uma indústria que precisa de ser fortemente impulsionada para podermos tirar verdadeiro partido económico da enorme quantidade de energia solar que Portugal recebe de graça, sendo uma indústria que poderíamos ter clara vantagem competitiva a nível Europeu.
 

Que conselhos daria a si próprio se estivesse agora no início da sua carreira?  

Há que perceber e antever as tendências da comunidade científica, mas devemos manter sempre a originalidade de pensamento, pois é essa a nossa forma diferente (até radical) de ver as coisas, conjugada com os nossos interesses particulares, que faz com que as nossas contribuições possam ser realmente únicas e, como tal, potencialmente valiosas.
 

Fevereiro 2024