A NOVA FCT foi a primeira instituição de ensino superior português a criar um serviço de aconselhamento para estudantes universitários, o GAPA. A atenção com o bem-estar da sua comunidade sempre foi uma força motora da Escola e, desde novembro deste ano, os funcionários também contam com um novo espaço de apoio psicológico.
A psicóloga Alexandra Rebelo, com mais de 20 anos de experiência, é a responsável por esta área criada para promover saúde mental e o bem-estar na NOVA FCT. Entre as atividades que irá dinamizar, estão previstos workshops de literacia na área abertos a toda a comunidade. O primeiro já tem data marcada e está agendado para 24 de janeiro.
É uma responsabilidade absolutamente partilhada!
Nunca nos devemos esquecer que, de uma forma ou de outra, sempre que interagimos com alguém, seja com um simples sorriso ou através de uma interação mais longa, ou ainda por escrito, somos corresponsáveis pela qualidade desse momento, pela qualidade dessa comunicação e, em última
instância, pela qualidade da manutenção da relação.
Torna-se crucial (seja qual for o papel que a pessoa desempenha na organização) identificar e reconhecer/validar as necessidades individuais, para melhor perceber as do grupo.
A pandemia acelerou aquilo que já antecipávamos iria acontecer (embora não soubéssemos exatamente como ou quando). Acelerou a transformação digital, obrigou a redefinir estratégias e modelos de trabalho, como o teletrabalho, por exemplo, promovendo uma transformação nas dinâmicas de relacionamento, destacando a importância da flexibilidade para (e em) novos modelos de comunicação e de relação.
Este foi, é e será cada vez mais, um momento em que se percebe a necessidade de se trabalhar soft skills como a inteligência emocional, a resiliência, a comunicação, a gestão emocional de equipas, precisamente porque estamos neste momento a viver ainda a adaptação a estas novas formas de trabalho e de comunicar.
Todos somos responsáveis, pois todos nos influenciamos uns aos outros. No entanto, cada liderança deve assumir para si, o papel de modelar padrões, valores e expectativas na organização, com vista ao bem-estar, à qualidade de vida e à subsequente produtividade. O estilo de liderança que cada um assume, vai impactar diretamente na cultura da organização, na motivação e no desempenho de cada colaborador.
Há pouco tempo, num workshop sobre precisamente esta questão das boas práticas, falava em alguns aspetos a reter e a desenvolver por forma a termos ambientes saudáveis, equilibrados e positivos. Partilho alguns dos tópicos que foram debatidos na altura:
É um facto que muitas vezes se confundem os conceitos. De forma sucinta, a ausência de doença mental é uma avaliação do indivíduo, que é feita baseada na inexistência de sintomas psiquiátricos clinicamente significativos. Por outro lado, a saúde mental vai além da mera ausência de doença mental. Envolve um estado positivo de bem-estar emocional, psicológico e social. Ter saúde mental significa, por exemplo, ter capacidade de lidar com o stress e/ou ser capaz de manter relacionamentos saudáveis, ser capaz de tomar decisões positivas, eficazes, ser capaz de contribuir de maneira construtiva para a comunidade.
Ou seja, enquanto definimos a ausência de doença mental como a falta de sintomas específicos, a presença de saúde mental destaca-se por ser um estado positivo e holístico de equilíbrio emocional e funcionalidade psicossocial.
Sempre que promovemos uma cultura organizacional que valoriza a saúde mental, estamos a fornecer recursos e a normalizar a procura de apoio psicológico e isso é crucial para combater o estigma. Programas de sensibilização, educação e comunicação aberta são estratégias eficazes para mudar as perceções e encorajar todos os colaboradores e alunos (no caso das Instituições de Ensino) a procurarem ajuda quando necessário.
Embora existam progressos na redução do estigma em relação à procura de apoio psicológico, ainda persistem atitudes e perceções que podem criar algumas barreiras. O estigma pode derivar de várias fontes, como pressões culturais, medo de represálias ou preocupações com a confidencialidade. Na NOVA FCT por exemplo, criou-se um email ao qual apenas eu tenho acesso para que as pessoas possam proceder às marcações das suas consultas sem o terem de fazer através de serviços internos.
Não. Nada. Não me surpreendeu nada. Deixou-me muito feliz o facto da NOVA FCT estar a trabalhar na solução. Esta proatividade é de louvar. Em todos os contextos sociais e profissionais a necessidade de apoio psicológico é cada vez mais premente. É urgente aumentar a capacidade de resposta. Há números elevadíssimos de depressão, de crises de ansiedade, de ataques de pânico, de burnout. Se não houver reposta a estas realidades, se não trabalharmos em conjunto na literacia em saúde da população, das organizações, de cada um, os números só vão aumentar (com as respetivas consequências negativas ao nível pessoal e comunitário). Ninguém consegue trabalhar se a sua saúde mental estiver de forma crítica posta em causa. Não bastam decretos-lei que digam que a saúde mental é importante. É preciso que na prática se veja investimento concreto nesta área, se veja trabalho, se vejam contratações, para que as instituições possam criar as ajudas. Psicólogas/os há muitas/os, mas contratações, ainda muito poucas organizações têm meios para as fazer. Para além de que não existem assim tantas pessoas com meios financeiros para pagarem consultas semanais ou quinzenais. A título de exemplo, no site do SNS pode ler-se: “De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é o problema de saúde mais prevalente na União Europeia, afetando cerca de 50 milhões de pessoas. As estatísticas revelam ainda que 11% da população irá sofrer um episódio depressivo ao longo da vida e que essa é a segunda maior causa de incapacidade. Portugal ocupa a 5ª posição entre os países com mais casos – cerca de 8% dos portugueses estão diagnosticados com essa perturbação.” Assim se vê a urgência e se percebe o porquê de tanta adesão quando os serviços ficam disponíveis. Por isso, não, não me surpreendeu.
Muito se pode dizer em relação ao stress, às suas causas e à forma de lidar com o mesmo. Além de trabalharmos nas competências emocionais e no desenvolvimento da inteligência emocional de cada um, há sempre coisas que podemos fazer no nosso dia a dia que promovem uma vida com menor índice de stress. Deixo aqui algumas sugestões:
Com 23 anos de prática profissional, Alexandra Rebelo é Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), Practioner em Programação Neurolinguística pela Emotional Business Academy, memnro da European Federation of Psychologists Associations, Formadora Certificada, Vocal Coach pela High Performance Vocal Coaching e Coach certificada pela World Coaching Organization.
Para além do trabalho realizado em Organizações e na Clínica Privada já teve várias experiências internacionais, multiculturais e interdisciplinares, nomeadamente com a Girl MOVE, organização não governamental portuguesa premiada com o prémio UNESCO 2021, pelo seu trabalho com raparigas no Norte de Moçambique. E faz parte dos órgãos sociais da ADDAPTERS Enable – Associação sem fins lucrativos de apoio a jovens e crianças com multideficiência e seus cuidadores.
Dezembro de 2023