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Maior envolvimento da sociedade para uma ação mais eficaz no caminho da Sustentabilidade

07-12-2023

O ciclo de conferências sobre sustentabilidade, promovido pela Direção da NOVA FCT, teve o seu início no passado dia 6 de dezembro, com a primeira sessão dedicada à Água e o Futuro.

O encontro reuniu meia centena de participantes que tiveram a oportunidade de debater e explorar estratégias inovadoras e sustentáveis, no sentido de contribuir significativamente para mitigar os impactos negativos em curso e promover a gestão responsável dos recursos hídricos.

"Os desafios que a sustentabilidade coloca são também desafios tecnológicos e esta Escola reúne todas as valências necessárias para uma abordagem multidisciplinar a estas questões", disse José Paulo Santos, subdiretor para o Conselho Científico e responsável pela Comunicação da NOVA FCT.

Em cada uma das intervenções - a gestão hídrica, a contaminação por microplásticos, as Infraestruturas Azuis e a reutilização da água - os palestrantes expressaram a necessidade de metodologias e ações de monitorização dos recursos naturais, em particular, da água. Entre algumas ações necessárias, destacaram-se um maior cuidado nos processos de licenciamento; o envolvimento da sociedade na discussão pública dos problemas relacionados com a gestão hídrica, energética e infraestruturas naturais; a avaliação do risco e impacto na saúde humana.

A promoção da educação, da literacia e da discussão ambiental, foram elencadas como essenciais, pois, como referiu Carmona Rodrigues, investigador do DCEA e do MARE, "sempre que abordarmos o que não é sustentável, estamos no caminho da sustentabilidade".

Paula Sobral, especialista no estudo dos microplásticos (fragmentos com medida inferior a 5mm) traçou igualmente um quadro onde a ação de investigação e desenvolvimento de tecnologia adequada se afigura urgente. Este problema global, com particular incidência na Ásia e África "é uma verdadeira ameaça que, na maioria das vezes, não se vê", destaca a investigadora na sua apresentação. Entre alguns poluentes, o principal responsável encontra-se nos tecidos: as fibras utilizadas na sua confecção poluem não só a água, mas também a atmosfera e os solos. O desgaste dos pneus são o segundo maior contributo para a formação de microplásticos, mas também produtos de maquilhagem e tintas. As evidências científicas não deixam margem para dúvidas e "a presença de microplásticos e vários polímeros presentes nos pulmões e no sangue estão comprovados em diversos estudos", alerta a professora.

No que respeita às infraestruturas verdes/azuis, José Carlos Ferreira, docente do DCEA, destacou o contributo da investigação da NOVA FCT e o seu impacto através da transferência para a sociedade. Setúbal, Costa de Caparica e Torres Vedras são exemplos de municípios onde a estreita colaboração com a Faculdade já revela o impacto positivo da abordagem "Nature-based solutions", ou seja o que a natureza nos pode oferecer como resposta aos problemas ambientais e de ordenamento territorial", esclareceu.

Apostar em soluções que envolvem o reaproveitamento do próprio recurso hídrico é defendido pela investigadora do CENSE, Rita Maurício, contextualizando que "este conceito não é novo, mas é necessário apostar no reconhecimento do valor da reclaimed water ou água reciclada. Se pensarmos que o setor da água representa um valor global de 1 trilião de euros, facilmente se percebe o potencial que a oportunidade da água reciclada e as suas vantagens representam".

A concluir a sua intervenção, referiu que os dados estatísticos vão ao encontro desta janela de oportunidade no nosso país, sendo o 5.º com mais potencial para aproveitar águas residuais. Apesar de algum caminho percorrido, e "a primeira vez que houve uma monitorização deste tema foi precisamente com um trabalho do Professor Fernando Santana" e de tecnologia disponível, "o custo do processo ainda é muito elevado", rematou Rita Maurício.

A intervenção de Patrícia Fortes incidiu na relação entre a água e a produção de energia. "Portugal encontra-se no território considerado hot spot das alterações climáticas. Apesar da grande incerteza no que diz respeito aos que se pode prever e como a a natureza pode responder, há algum grau de previsibilidade para o qual devemos estar preparados", relembrando que "60% da nossa capacidade elétrica é partilhada com Espanha e que grande parte da nossa produção elétrica está dependente dos recursos hídricos". A investigadora da NOVA FCT destacou a necessidade de estudar formas de armazenar a energia produzida em períodos de excedente, por exemplo em baterias, e o aproveitamento de outras fontes de energia como a eólica ou a solar.

Neste processo de construção de alternativas mais sustentáveis, o envolvimento da sociedade num processo de comunicação contínuo, cientificamente rigoroso e atual, é de extrema importância para se alcançarem soluções eficazes e eficientes, anuíram os oradores.

A terminar a sessão foi dado a conhecer o Prémio Fernando Santana. Com a sua primeira edição em 2024, este prémio irá destacar trabalhos inovadores no setor da água, com foco na sustentabilidade, em duas categorias. A académica irá premiar teses de mestrado e doutoramento, e a categoria profissional onde serão distinguidos projetos inovadores. Este prémio visa reconhecer e homenagear o antigo Diretor da NOVA FCT, que além da sua atividade pedagógica e científica na NOVA FCT, ocupou inúmeros cargos públicos nos quais promoveu a ciência, a investigação e as causas ambientais e projetou internacionalmente a imagem da NOVA e da Academia Portuguesa. Considerado um visionário na dinamização de uma cultura de desenvolvimento e valorização da investigação, modernizou e inovou a escola de ciências e engenharia sem esquecer a formação cívica e cultural dos estudantes, que apoiou de forma notável.

“Este Prémio é uma justa homenagem ao trabalho desenvolvido pelo Professor Fernando Santana, à sua dedicação e ação catalizadora em tantas áreas e, em particular, no ambiente”, frisou o Subdiretor da NOVA FCT.

Em breve será divulgada a data da próxima conferência deste ciclo dedicado à sustentabilidade no domínio dos elementos Água, Terra, Fogo e Ar.

António Carmona Rodrigues, na sua intervenção "Desafios na Gestão dos Recursos Hídricos e a Luta Contra a Seca".

"Microplásticos: A Ameaça Silenciosa", foi o tema de Paula Sobral.

José Carlos Ferreira falou sobre as "Infraestruturas Azuis: Inovação para um Futuro Sustentável".

Rita Maurício apresentou o tema "Reutilização no Setor da Água: Soluções para a Escassez Hídrica".

"Nexus Água-Energia e as Implicações das Alterações Climáticas" foi a intervenção de Patrícia Fortes.

Na imprensa

Água, fogo, ar e terra. Ciclo de conferências promove sustentabilidade dos quatro elementos em Portugal, RTP

Ciclo de Conferências Sustentabilidade: Água e o FuturoPeggada

Caparica | Ciclo de conferências sobre sustentabilidade, Almada Online

Reciclar água para atenuar a seca, Jornal de Negócios