31-03-2023
José Carlos Kullberg, Professor do Departamento de Ciências da Terra e investigador do GeoBioTec da NOVA School of Science and Technology | FCT NOVA, liderou o grupo de investigadores que conduziu a bom porto a classificação da Brecha da Arrábida como "Pedra Património Mundial" (Heritage Stone). A classificação foi atribuída pela Subcomissão do Património Geológico da International Union of Geological Sciences (IUGS), parceira da UNESCO para diversos assuntos relacionados com as Geociências, no passado mês de outubro.
A importância histórica e relevância arquitetónica das aplicações da Brecha da Arrábida, aliadas aos valores geológicos, culturais e pedagógicos, foram fatores determinantes para a sua aprovação como “Pedra Património Mundial”. A Brecha da Arrábida junta-se agora às duas pedras que tinham anteriormente alcançado este estatuto em Portugal, o Mármore de Estremoz e o calcário Lioz, integrando um restrito leque de 32 Heritage Stones classificadas a nível mundial.
Aspeto da Brecha da Arrábida numa das frentes da pedreira do Jaspe, abandonada na década de 70.
Uma Heritage Stone (HS) é, de acordo com o IUGS, “uma rocha que tem sido utilizada em arquitetura e monumentos significativos, reconhecida como parte integrante da cultura humana”. A Brecha da Arrábida enquadra-se perfeitamente nesta definição, por ter sido explorada como rocha estrutural desde a Época Romana até ao século XV, altura em que passou a ser utilizada como rocha ornamental associada ao estilo “Manuelino” nos exteriores dos monumentos e, a partir do século XVII, no Barroco, sobretudo em aplicações interiores. Em Portugal, das quase 90 ocorrências listadas na candidatura da Brecha da Arrábida a HS, 65 referem-se a utilizações em monumentos classificados, 24 dos quais são monumentos nacionais, e alguns integrados nas classificações da UNESCO. Desta lista, constam vários exemplos de aplicações emblemáticas (e.g. Mosteiro de Jesus, século XV, em Setúbal, distribuídas por seis países, para além de Portugal, e distribuídas por três continentes: Áustria, França, Espanha e Reino Unido, Brasil e Moçambique.
Mosteiro de Jesus, século XV, em Setúbal.
Além de José Carlos Kullberg, integraram a equipa que investigou esta pedra e conduziu o seu processo de candidatura a “Pedra Património Mundial”, António Prego, atualmente professor do ensino secundário em Almada e Luís Lopes, Tiago Alves e Ruben Martins, da Universidade de Évora.
Do ponto de vista geológico, a Brecha da Arrábida é uma brecha conglomerática intraformacional do Jurássico Superior (com cerca de 160 milhões de anos), de suporte granular, com clastos carbonatados de diversas cores, aglutinados por um cimento argiloso vermelho-carbonatado, cuja génese está associada a um carso formado durante um evento de emersão generalizada na Bacia Lusitaniana, resultante da distensão entre as margens Ibérica Ocidental e da Terra Nova.
A primeira referência bibliográfica à Brecha da Arrábida, sem caráter científico, pertence ao linguista e historiador português Duarte Nunes Leão, em 1610. A primeira referência científica pode atribuir-se ao Barão de Eschwege (1831), ao estudar a geologia da região de Setúbal. Ao longo dos séculos, esta rocha teve diferentes nomes como Pedra Jaspe (devido à sua cor avermelhada), Vermelho Antigo, Grés Vermelho, Conglomerado d’Arrábida, Mármore Mosaico da Arrábida e Brechas de Portugal. Ao longo dos séculos XIX e XX, esta rocha e a formação geológica em que se insere, foram alvo de inúmeros trabalhos científicos. Os mais recentes destacam a sus relevância no contexto das fases iniciais da abertura do Atlântico Norte durante os períodos Jurássico e Cretácico.
A exploração da Brecha da Arrábida cessou em meados dos anos 70, com a criação do Parque Natural da Arrábida, onde se localizavam as pedreiras. As próximas ações urgentes a serem implementadas, principalmente na pedreira do Jaspe envolvendo os municípios e o Parque Natural devem passar por melhorar as condições de visitação e os caminhos de acesso às mesmas, pela colocação de placas informativas e pelo estabelecimento de visitas organizadas com fins pedagógicos e de sensibilização da população para a necessidade de preservação do património. A recente classificação como Heritage Stone deve materializar-se como um contributo fundamental para atingir estes objetivos.
Na imprensa
José Carlos Kullberg explica a importância da Brecha da Arrábida ao Portugal em Direto, RTP
Brecha da Arrábida obtém classificação de “Pedra Património Mundial”, O Setubalense
Câmara de Setúbal disponível para trabalhar na recuperação e preservação da Pedreira do Jaspe, O Setubalense
Brecha da Arrábida é Heritage Stone, PressTour
Explorada no passado. Brecha da Arrábida precisa de preservação urgente, Antena 1