28-01-2018
Na madrugada de 12 para 13 de Novembro de 1978 havia chovido em Lisboa, nomeadamente em Alvalade, onde pela manhã as manifestações disso eram claras. Mas para espanto, ao longo de uma faixa rectilínea com cerca de 1 km de comprimento (incluindo parte da Av. Rio de Janeiro e de algumas outras artérias) estavam os passeios e asfalto enxutos, folhas secas, carros estacionados cobertos de pó seco e filas anormais de carros para serem lavados. Na realidade, os automóveis que se encontravam parqueados ao longo da avenida estavam completamente cobertos de um pó seco com distribuição muito uniforme, podendo mesmo em alguns casos distinguir-se nos tejadilhos pequenos círculos sem pó que indiciavam evaporação de gotas de água. Naquela madrugada registou-se no vizinho aeroporto da Portela uma forte nebulosidade de muito baixa altitude, o que obrigou ao desvio do tráfego aéreo para o Porto.
Amostras do pó recolhidas naquela manhã foram mais recentemente objecto de estudo dirigido pelo Professor Rui Lobo no Laboratório de Nanofísica e Energia da FCT NOVA. Este docente do Departamento de Física e membro do CTS-UNINOVA recorreu à Nanofísica e Nanoengenharia (área que introduziu no país) e a fontes fidedignas de informação meteorológica, os resultados foram agora publicados pela prestigiada editora Springer em artigo científico (https://link.springer.com/article/10.1007/s12210-017-0633-z). As conclusões apontam para uma substância com características físico-químicas que não se encaixam nos padrões típicos das potenciais fontes conhecidas (ex: areias de deserto, cimenteiras, pedreiras, cinzas, etc…) e configuram um incidente ambiental envolvendo pelo menos seis toneladas de pó com elevada toxicidade respiratória, dada a sua constituição ter revelado elevada percentagem de micro e nanopartículas. Algumas dessas partículas são nanotubos (estruturas que necessitam de altas temperaturas para se formarem, e que só bem mais tarde se tornaram conhecidos pela ciência). À ocorrência invulgar registada naquela madrugada juntam-se agora as evidências do desconhecimento da fonte poluidora, do pó não corresponder a qualquer fonte potencial conhecida, e da sua secagem ter sido rápida na ausência de radiação solar e sem que a temperatura ambiente registada pelo IPMA situado no vizinho aeroporto tenha sofrido qualquer alteração. Este é "o levantar do véu" de um mistério ainda não completamente desvendado, mas agora confirmado.