13-02-2008
Partículas inteligentes dão prémio a jovem cientista da FCT
Existirá um processo através do qual, com uma simples inalação, se consigam libertar fármacos anti-cancerígenos nos pulmões, deixando intactos os tecidos saudáveis? Para Márcio Temtem, 26 anos, doutorando em Química na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a resposta é sim. O jovem cientista foi um dos premiados no Programa de Estímulo à Investigação 2007, da Fundação Calouste Gulbenkian, com o projecto «Partículas nanoporosas inteligentes: um novo caminho para libertação controlada nos pulmões».
A utilização de partículas inaladas para transporte de fármacos até aos pulmões poderá ajudar, no futuro, ao tratamento mais eficaz de algumas doenças respiratórias, como a asma ou o cancro do pulmão. Porém, o método só é viável se as partículas evitarem os mecanismos de defesa do organismo e se fixarem nos pulmões, onde libertarão os agentes activos.
Para garantir que o transporte é bem sucedido, Márcio Temtem, do Centro de Química Fina e Biotecnologia (CQFB), integrado no Laboratório Associado REQUIMTE, propõe-se produzir partículas nanoporosas, as quais, devido à sua baixa densidade introduzida pelos minúsculos poros , evitarão ser expulsas pelos mecanismos de defesa dos pulmões. Esses poros serão depois revestidos por polímeros «inteligentes», como hidrogéis, moléculas que são sensíveis a pequenas variações do pH ou da temperatura dos tecidos.
«Sabe-se que os tumores têm um pH mais baixo do que os tecidos saudáveis», explica Márcio Temtem. «Os polímeros sentem essa diferença e libertam os fármacos [que transportam] apenas na zona do tumor.» Desta forma, será possível bombardear com drogas os tecidos doentes, deixando intacta a região circundante.
A técnica de produção de partículas nanoporosas proposta por Márcio Temtem tem ainda a vantagem de ser ambientalmente saudável. «Vamos usar uma nova tecnologia com solventes amigos do ambiente», diz o investigador. Geralmente, na produção destas partículas usam-se solventes orgânicos, os quais, além de poluentes, são muitas vezes compostos cancerígenos. Mas a produção de partículas no CQFB/REQUIMTE irá recorrer a dióxido de carbono a alta-pressão, não deixando no fim das experiências quaisquer resíduos e reutilizando, desta forma, um gás com efeito de estufa.
Inserido na área da nano-química, o projecto de Márcio Temtem recebeu da Fundação Calouste Gulbenkian o valor monetário de 12.500 euros, dos quais 2.500 euros são para o investigador e os restantes 10 mil para a instituição de acolhimento. O cientista da UNL foi um dos oito jovens distinguidos pelo júri do Programa de Estímulo à Investigação, entre mais de 30 candidaturas.