Estudo de Docentes do Departamento de Ciências da Vida publicado na Revista Nature

04-03-2010

Viva a diferença! - Descobrindo novas facetas da evolução 150 anos depois de Darwin

Dois docentes do Departamento de Ciências da Vida, em conjunto com investigadores americanos, descobriram numa levedura muito parecida com a vulgar levedura de padeiro, um novo e complexo tipo de variação genética. Esta descoberta, publicada a 4 de Março de 2010 na revista Nature, poderá ajudar a explicar porque algumas espécies mantêm níveis elevados de diversidade genética entre indivíduos, o que pode contribuir para uma adaptação mais rápida a novas situações ambientais.

Veja o artigo aqui Nature.png

De um modo geral os organismos que pertencem à mesma espécie têm um património genético idêntico. Isto acontece porque a selecção natural favorece normalmente uma única versão de cada gene. Porém, nalguns casos pode acontecer que versões radicalmente diferentes de um dado gene sejam mantidas por ambas poderem ser vantajosas. Nestes casos não existe uma única versão óptima do gene, mas sim duas versões alternativas que são seleccionadas em duas populações diferentes da mesma espécie. Um exemplo emblemático é o caso do gene que codifica um importante componente da hemoglobina humana: em populações afectadas pela malária, é seleccionada uma versão diferente do gene, que confere resistência ao parasita da malária embora possa causar também uma forma de anemia.

Os dois docentes, investigadores do CREM (Centro de Recursos Microbiológicos) sediado no DCV, Paula Gonçalves e José Paulo Sampaio, começaram por desenvolver um novo método para isolar da natureza estas leveduras, o que conduziu à descoberta em Portugal de uma população de uma espécie até agora apenas encontrada no Japão. Quando compararam as características dos isolados Portugueses com os Japoneses, os investigadores aperceberam-se de uma diferença genética nunca antes vista em indivíduos da mesma espécie. Esta diferença diz respeito à capacidade da levedura em conseguir metabolizar galactose, um açúcar comum em frutas e vegetais. Enquanto a população Japonesa é incapaz de assimilar este açúcar e no seu genoma os seis genes necessários para esta função estão completamente degenerados, a população portuguesa da mesma espécie possui todos os genes intactos e é perfeitamente capaz de utilizar a galactose. Seguiu-se a caracterização do genoma completo de todos os indivíduos da espécie em colaboração com investigadores Americanos, que demonstrou sem margem para dúvidas que se tratava de uma variação dentro da espécie e que a selecção natural pode favorecer em alternativa as duas versões, dependendo das condições do meio ambiente. A grande novidade deste caso reside no facto de envolver a selecção em simultâneo de seis genes localizados em cromossomas diferentes, permitindo inferir que a selecção natural opera de forma mais poderosa e mais complexa do que até aqui se assumia.

Quanto ao trabalho agora publicado há ainda um mistério por resolver. As populações do Japão e de Portugal têm nichos ecológicos semelhantes. Estas leveduras podem ser encontradas nas cascas de carvalhos, e presentemente desconhecem-se as razões que levaram a que a capacidade de utilizar galactose, o estado que a selecção natural favoreceu em Portugal, seja desvantajosa no Japão. Será essa a nova etapa do estudo que a equipa Portuguesa conta iniciar brevemente.